No futebol, como na vida, às vezes tudo de que se precisa é abrir portas e janelas, a fim de ventilar o ambiente e renovar os ares. No atual caso do Grêmio, uma só porta: Portaluppi. E o mais curioso de tal fórmula, por assim dizer, é sua eficácia a despeito do bom trabalho outrora feito pelos antigos encarregados.
O Grêmio, hoje, vive um paralelo com o ano de 2010: à época,
Silas, contratado no início do ano, fizera um excelente primeiro semestre – de
quando data, aliás, o último título tricolor –, conquistando o Gauchão sobre o
Internacional com uma exuberante atuação coroada por vitória de 2x0 no
Beira-Rio no jogo de ida e com memoráveis exibições na Copa do Brasil, como o
heroico 3x2 sobre o Fluminense no Maracanã, apesar de contar com um atleta a
menos desde o fim do primeiro tempo, e a transcendental vitória de 4x3 sobre o
Santos, ocasião em que o Grêmio reverteu uma desvantagem de 2x0, construída no
primeiro tempo, para 4x2 em incríveis 18 minutos; na partida de volta, na Vila
Belmiro, o tricolor gaúcho desafortunadamente sucumbiria à exímia equipe
santista por 3x1, deixando a Copa do Brasil na semifinal.
Luxemburgo, tanto quanto Silas, viveu um ótimo momento e,
sob certa ótica, deixou o seu legado: o Grêmio teve admirável participação no
Brasileirão de 2012 e chegou à Libertadores deste ano – na qual, contudo, a
equipe foi tão irregular quanto no pífio campeonato regional e, como Silas em
2010, o treinador foi demitido no primeiro turno do Brasileiro deste ano, mas
mais prematuramente. O que torna tal analogia entre ambos os períodos ainda
mais curiosa é o fato de que Renato substituiu ambos os treinadores demitidos;
em 2010, como todos os gremistas haverão de recordar, a arrancada tricolor rumo
às primeiras posições foi espantosa, sobretudo pelo segundo turno: apenas duas
derrotas, diversas vitórias – muitas delas por goleada – e o título do turno
com um desempenho superior ao do Fluminense, campeão daquele ano, no primeiro
turno.
Por ora, tudo indica que a reação tende a se repetir com
Renato assumindo as rédeas tricolores – e com bônus: ainda nas primeiras
rodadas do longo campeonato e contando com um elenco, em tese, superior ao de
2010. Além de notavelmente superior a Luxemburgo em termos de vestiário, Renato
não comete gafes grotescas como a de seu antecessor, no Chile, ao queimar a
terceira alteração com o time vencendo e jogando melhor do que o Huachipato,
sofrer a eventualidade da lesão de Werley e, pior, forçá-lo a permanecer em
campo.
Renato, hoje, é melhor treinador do que Luxemburgo,
motivacional e tecnicamente. E o Grêmio, agora, dispõe de muito mais tempo para
reeditar a surreal reação esboçada em 2010 – que, por questão de poucos jogos,
não culminou em título.